Quando se
refere a equilíbrio, especifica-se aquela situação na qual o corpo adota uma
determinada posição em relação ao espaço, o qual a cabeça é dirigida para cima
e a face para frente com ereção do corpo todo com o intuito de posicionar a
cabeça na parte alta, essa posição em pé é a posição ortostática ou ereta
(DOUGLAS, 2002). Sendo assim, mesmo um comportamento cotidiano como a
manutenção da posição ereta, ao contrário do que parece, é uma tarefa complexa
que envolve um complexo relacionamento entre informação sensorial e atividade
motora (BARELA, 2000).
Para o equilíbrio corporal
estático ser mantido é necessário um conjunto de estruturas funcionalmente
entrosadas: o sistema vestibular, os olhos e o sistema proprioceptivo. A
manutenção do equilíbrio geral é realizada pelo sistema vestibular, esse
sistema detecta as sensações de equilíbrio, sendo composto de um sistema de
tubos ósseos e câmaras na porção petrosa do osso temporal chamado de labirinto
ósseo e dentro dele um sistema de tubos membranosos e câmaras chamado de
labirinto membranoso (ou membranáceo), que é a parte funcional do sistema
vestibular (GUYTON, 1992).
O
sistema vestibular é inervado por vias aferentes localizadas no gânglio de
Scarpa, os prolongamentos centrais juntam-se aos axônios que se originam no
gânglio espiral da cóclea, constituindo o nervo vestíbulo-coclear, VIII par de
nervos craniano. A porção vestibular projeta-se aos núcleos vestibulares, sendo
que esses núcleos são compostos pela parte inferior, lateral, superior e medial
(ESBERARD, 1991).
Através
desta estrutura fisiológica o reflexo vestíbulo-ocular é realizado, em que o
sistema vestibular mantém os olhos orientados para uma determinada direção,
mantendo sua linha de visão firmemente fixa (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2002).
A
informação visual parece ser a mais importante das informações relacionada ao
equilíbrio, analisando pessoas cujo mecanismo vestibular foi totalmente
destruído, foi possível verificar uma pequena inabilidade em suas vidas
diárias. Essas pessoas não apresentam sérias dificuldades de equilíbrio,
enquanto, o sistema visual, receptores das articulações e os cutâneos estão
funcionando (VANDER; SHERMAN; LUCIANO, 1981). Douglas (2002) afirma que o
córtex visual sensibilizado determina modificações do tônus postural, no qual
predominam modificações tônicas da musculatura antigravitatória.
Barela
(2000) descreve sobre a importância da visão na manutenção do equilíbrio
corporal, onde enquanto a qualidade da informação visual não é afetada o
equilíbrio corporal permanece constante, quando essa informação é manipulada,
com deslocamento do campo visual ou diminuição da acuidade visual ocorre o
aumento da oscilação corporal, existindo um prejuízo na manutenção do
equilíbrio.
Guyton
(1986) descreve sobre a importância da informação visual para a manutenção do
equilíbrio, que mesmo após uma destruição completa dos sistemas vestibulares,
uma pessoa pode ainda utilizar de maneira efetiva os seus mecanismos visuais
para a manutenção do equilíbrio, pois as imagens visuais auxiliam o indivíduo
na manutenção do equilíbrio apenas por detecção visual de uma informação
(visão) global e que muitas pessoas com destruição completa dos sistemas
vestibulares apresentam equilíbrio quase normal quando estão com os olhos
abertos ou quando executam movimentos lentos, mas na ausência da informação
visual ou na execução de movimentos rápidos, perdem o equilíbrio.
Bear;
Connors; Paradiso (2002) ressaltam a importância de que para se obter uma visão
precisa, é necessário que a imagem permaneça estável nas retinas, apesar do
movimento da cabeça, cada olho pode ser movido por um conjunto de seis músculos
extra-oculares, o reflexo vestíbulo-ocular atua pela detecção das rotações da
cabeça e imediatamente comanda um movimento compensatório dos olhos na direção
oposta, o movimento ajuda a manter sua linha de visão firmemente fixa em um
alvo visual, como o reflexo vestíbulo-ocular é um reflexo disparado pela
aferência vestibular, ele opera surpreendentemente bem, inclusive mesmo no
escuro ou quando os olhos estão fechados.
Esse
movimento compensatório dos olhos é chamado nistagmo, é constituído por um
conjunto de batimentos oculares com uma componente lenta (numa determinada
direção) que pode originar-se do labirinto ou dos núcleos vestibulares e outra
componente, a componente rápida, que consiste no retorno rápido dos olhos à
posição anterior que seria produzida na formação reticular do tronco cerebral
(CAOVILLA et al, 1997).
Importantes
para a manutenção do equilíbrio corporal também são as informações
proprioceptivas, que segundo Ganong (1998) a orientação do corpo no espaço
também dependem de impulsos de proprioceptores nas cápsulas das articulações,
que enviam dados sobre a posição relativa das várias partes do corpo e impulsos
de exteroceptores cutâneos, especialmente os de tato e pressão. Por exemplo, os
ajustamentos de equilíbrio adequado devem ser feitos sempre que o corpo se
angula no tórax ou no abdome, ou em qualquer outro local, todas essas
informações são algebricamente somadas no cerebelo e na substância reticular e
núcleos vestibulares do tronco cerebral, determinando ajustes adequados nos
músculos posturais (GUYTON, 1986).
Guyton
(1986) descreve também que as sensações exteroceptivas são importantes na
manutenção do equilíbrio, por exemplo, as sensações de pressão das plantas dos
pés podem expressar: se o seu peso está distribuído de maneira igual entre os
dois pés e se seu peso está mais para frente ou para trás em seus pés. Outro exemplo
citado por Guyton é na manutenção do equilíbrio quando uma pessoa está
correndo, a pressão do ar contra a parte anterior do seu corpo mostra que a
força se opõe ao corpo em uma direção diferente da que é causada pela força
gravitacional, como resultado, a pessoa inclina-se para frente para se opor a
ela.
Bankoff
(1992) cita que existe uma relação reflexa de sensibilidade, com a velocidade
do olho durante os movimentos de condução das passadas na locomoção humana,
estão diretamente ligadas também com a manutenção da postura corporal, onde
informações provenientes de captores sensitivos externos, como os situados no
pé são importantes para a manutenção do sistema tônico-postural.
A
informação proprioceptiva mais importante, necessária à manutenção do
equilíbrio, é a proveniente dos receptores articulares do pescoço, pois quando
a cabeça é inclinada em determinada direção pela torção do pescoço, fazem com
que o sistema vestibular dê ao indivíduo uma sensação de desequilíbrio, isto se
deve ao fato de eles transmitir sinais exatamente opostos aos sinais
transmitidos pelo sistema vestibular, no entanto quando todo o corpo se desvia
em uma determinada direção, os impulsos provenientes do sistema vestibular não
são opostos aos que se originam nos proprioceptores do pescoço, permitindo que
nessa situação a pessoa tenha uma percepção de uma alteração de equilíbrio de
todo o corpo (GUYTON, 1992).
REFERÊNCIAS
1 - DOUGLAS,
Carlos Roberto. Tratado de Fisiologia aplicada a saúde. 5. ed. São
Paulo: Robe Editorial, 2002.
2 -
BARELA,
José A. Estratégias de controle em movimentos complexos: ciclo
percepção-ação no controle postural. Revista paulista de Educação Física. supl.
3, 2000, 79-88.
3 - GUYTON,
Arthur C. Fisiologia humana e mecanismo das doenças. 3. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 1986.
4 - ______. Tratado
de fisiologia médica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1992.
5 - ESBERARD,
Charles Alfred. Mecanismos neurais da postura e do movimento. In: AIRES,
Margarida de Mello. Fisiologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991.
6 - BEAR,
Mark F.; CONNORS, Barry W.; PARADISO, Michael A. Neurociências:
desvendando o sistema nervoso. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.
7 - VANDER,
Arthur J.; SHERMAM, James H.; LUCIANO, Dorothy S. Fisiologia humana: os
mecanismos da função de órgãos e sistemas. São Paulo: McGraw-Hill, 1981.
8 - DOUGLAS,
Carlos Roberto. Tratado de Fisiologia aplicada a saúde. 5. ed. São
Paulo: Robe Editorial, 2002.
9 - CAOVILLA,
Heloísa Helena; GANANÇA, Maurício Malavasi; MUNHOZ, Mário Sérgio Lei; SILVA,
Maria Garcia Leonor da; FRAZZA, Márcia Moniz. Curso: O equilíbrio corporal e
os seus distúrbios. Parte I: noções de neuroanatomofisiologia do sistema
vestibular. Revista brasileira medicina Otorrinolaringologia; 4(1), jan. 1997,
11-9.
10 - GANONG,
Willian F. Fisiologia Médica. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil,
1998.
11 - BANKOFF,
A.D.P.; PELEGRINOTTI, I.L.; MORAES, A .C.; GALDI, E.H.G.; MOREIRA, Z.W.;
MASSARA, G.; RONCONI, P. Analisis poddometrico de los atletas de levantamiento
de peso mediante la técnica vídeo-podometrica. Congresso científico
olímpico, Málaga, Espanha, v.1, n.208, p.18, 1992.
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