quarta-feira, 2 de maio de 2012

BASES NEUROFISIOLÓGICAS DO EQUILÍBRIO CORPORAL


     Quando se refere a equilíbrio, especifica-se aquela situação na qual o corpo adota uma determinada posição em relação ao espaço, o qual a cabeça é dirigida para cima e a face para frente com ereção do corpo todo com o intuito de posicionar a cabeça na parte alta, essa posição em pé é a posição ortostática ou ereta (DOUGLAS, 2002). Sendo assim, mesmo um comportamento cotidiano como a manutenção da posição ereta, ao contrário do que parece, é uma tarefa complexa que envolve um complexo relacionamento entre informação sensorial e atividade motora (BARELA, 2000).
     Para o equilíbrio corporal estático ser mantido é necessário um conjunto de estruturas funcionalmente entrosadas: o sistema vestibular, os olhos e o sistema proprioceptivo. A manutenção do equilíbrio geral é realizada pelo sistema vestibular, esse sistema detecta as sensações de equilíbrio, sendo composto de um sistema de tubos ósseos e câmaras na porção petrosa do osso temporal chamado de labirinto ósseo e dentro dele um sistema de tubos membranosos e câmaras chamado de labirinto membranoso (ou membranáceo), que é a parte funcional do sistema vestibular (GUYTON, 1992).
     O sistema vestibular é inervado por vias aferentes localizadas no gânglio de Scarpa, os prolongamentos centrais juntam-se aos axônios que se originam no gânglio espiral da cóclea, constituindo o nervo vestíbulo-coclear, VIII par de nervos craniano. A porção vestibular projeta-se aos núcleos vestibulares, sendo que esses núcleos são compostos pela parte inferior, lateral, superior e medial (ESBERARD, 1991).
     Através desta estrutura fisiológica o reflexo vestíbulo-ocular é realizado, em que o sistema vestibular mantém os olhos orientados para uma determinada direção, mantendo sua linha de visão firmemente fixa (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2002).
     A informação visual parece ser a mais importante das informações relacionada ao equilíbrio, analisando pessoas cujo mecanismo vestibular foi totalmente destruído, foi possível verificar uma pequena inabilidade em suas vidas diárias. Essas pessoas não apresentam sérias dificuldades de equilíbrio, enquanto, o sistema visual, receptores das articulações e os cutâneos estão funcionando (VANDER; SHERMAN; LUCIANO, 1981). Douglas (2002) afirma que o córtex visual sensibilizado determina modificações do tônus postural, no qual predominam modificações tônicas da musculatura antigravitatória.
     Barela (2000) descreve sobre a importância da visão na manutenção do equilíbrio corporal, onde enquanto a qualidade da informação visual não é afetada o equilíbrio corporal permanece constante, quando essa informação é manipulada, com deslocamento do campo visual ou diminuição da acuidade visual ocorre o aumento da oscilação corporal, existindo um prejuízo na manutenção do equilíbrio.
     Guyton (1986) descreve sobre a importância da informação visual para a manutenção do equilíbrio, que mesmo após uma destruição completa dos sistemas vestibulares, uma pessoa pode ainda utilizar de maneira efetiva os seus mecanismos visuais para a manutenção do equilíbrio, pois as imagens visuais auxiliam o indivíduo na manutenção do equilíbrio apenas por detecção visual de uma informação (visão) global e que muitas pessoas com destruição completa dos sistemas vestibulares apresentam equilíbrio quase normal quando estão com os olhos abertos ou quando executam movimentos lentos, mas na ausência da informação visual ou na execução de movimentos rápidos, perdem o equilíbrio.
     Bear; Connors; Paradiso (2002) ressaltam a importância de que para se obter uma visão precisa, é necessário que a imagem permaneça estável nas retinas, apesar do movimento da cabeça, cada olho pode ser movido por um conjunto de seis músculos extra-oculares, o reflexo vestíbulo-ocular atua pela detecção das rotações da cabeça e imediatamente comanda um movimento compensatório dos olhos na direção oposta, o movimento ajuda a manter sua linha de visão firmemente fixa em um alvo visual, como o reflexo vestíbulo-ocular é um reflexo disparado pela aferência vestibular, ele opera surpreendentemente bem, inclusive mesmo no escuro ou quando os olhos estão fechados.
     Esse movimento compensatório dos olhos é chamado nistagmo, é constituído por um conjunto de batimentos oculares com uma componente lenta (numa determinada direção) que pode originar-se do labirinto ou dos núcleos vestibulares e outra componente, a componente rápida, que consiste no retorno rápido dos olhos à posição anterior que seria produzida na formação reticular do tronco cerebral (CAOVILLA et al, 1997).
     Importantes para a manutenção do equilíbrio corporal também são as informações proprioceptivas, que segundo Ganong (1998) a orientação do corpo no espaço também dependem de impulsos de proprioceptores nas cápsulas das articulações, que enviam dados sobre a posição relativa das várias partes do corpo e impulsos de exteroceptores cutâneos, especialmente os de tato e pressão. Por exemplo, os ajustamentos de equilíbrio adequado devem ser feitos sempre que o corpo se angula no tórax ou no abdome, ou em qualquer outro local, todas essas informações são algebricamente somadas no cerebelo e na substância reticular e núcleos vestibulares do tronco cerebral, determinando ajustes adequados nos músculos posturais (GUYTON, 1986).
     Guyton (1986) descreve também que as sensações exteroceptivas são importantes na manutenção do equilíbrio, por exemplo, as sensações de pressão das plantas dos pés podem expressar: se o seu peso está distribuído de maneira igual entre os dois pés e se seu peso está mais para frente ou para trás em seus pés. Outro exemplo citado por Guyton é na manutenção do equilíbrio quando uma pessoa está correndo, a pressão do ar contra a parte anterior do seu corpo mostra que a força se opõe ao corpo em uma direção diferente da que é causada pela força gravitacional, como resultado, a pessoa inclina-se para frente para se opor a ela.
     Bankoff (1992) cita que existe uma relação reflexa de sensibilidade, com a velocidade do olho durante os movimentos de condução das passadas na locomoção humana, estão diretamente ligadas também com a manutenção da postura corporal, onde informações provenientes de captores sensitivos externos, como os situados no pé são importantes para a manutenção do sistema tônico-postural.
     A informação proprioceptiva mais importante, necessária à manutenção do equilíbrio, é a proveniente dos receptores articulares do pescoço, pois quando a cabeça é inclinada em determinada direção pela torção do pescoço, fazem com que o sistema vestibular dê ao indivíduo uma sensação de desequilíbrio, isto se deve ao fato de eles transmitir sinais exatamente opostos aos sinais transmitidos pelo sistema vestibular, no entanto quando todo o corpo se desvia em uma determinada direção, os impulsos provenientes do sistema vestibular não são opostos aos que se originam nos proprioceptores do pescoço, permitindo que nessa situação a pessoa tenha uma percepção de uma alteração de equilíbrio de todo o corpo (GUYTON, 1992). 

   
REFERÊNCIAS   
                                                                                                                   
1 - DOUGLAS, Carlos Roberto. Tratado de Fisiologia aplicada a saúde. 5. ed. São Paulo: Robe Editorial, 2002. 
2 - BARELA, José A. Estratégias de controle em movimentos complexos: ciclo percepção-ação no controle postural. Revista paulista de Educação Física. supl. 3, 2000, 79-88.
3 - GUYTON, Arthur C. Fisiologia humana e mecanismo das doenças. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1986.
4 - ______. Tratado de fisiologia médica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1992.
5 - ESBERARD, Charles Alfred. Mecanismos neurais da postura e do movimento. In: AIRES, Margarida de Mello. Fisiologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991.
6 - BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W.; PARADISO, Michael A. Neurociências: desvendando o sistema nervoso. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.
7 - VANDER, Arthur J.; SHERMAM, James H.; LUCIANO, Dorothy S. Fisiologia humana: os mecanismos da função de órgãos e sistemas. São Paulo: McGraw-Hill, 1981.
8 - DOUGLAS, Carlos Roberto. Tratado de Fisiologia aplicada a saúde. 5. ed. São Paulo: Robe Editorial, 2002.
9 - CAOVILLA, Heloísa Helena; GANANÇA, Maurício Malavasi; MUNHOZ, Mário Sérgio Lei; SILVA, Maria Garcia Leonor da; FRAZZA, Márcia Moniz. Curso: O equilíbrio corporal e os seus distúrbios. Parte I: noções de neuroanatomofisiologia do sistema vestibular. Revista brasileira medicina Otorrinolaringologia; 4(1), jan. 1997, 11-9.
10 - GANONG, Willian F. Fisiologia Médica. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil, 1998.
11 - BANKOFF, A.D.P.; PELEGRINOTTI, I.L.; MORAES, A .C.; GALDI, E.H.G.; MOREIRA, Z.W.; MASSARA, G.; RONCONI, P. Analisis poddometrico de los atletas de levantamiento de peso mediante la técnica vídeo-podometrica. Congresso científico olímpico, Málaga, Espanha, v.1, n.208, p.18, 1992.